Atualmente, 463 milhões de pessoas entre 20 a 79 anos de idade têm diabetes mellitus (DM) no mundo. O Brasil é o quinto país com o maior número de pessoas com a doença. Estima-se que atualmente 16,8 milhões de brasileiros tenham diabetes.²
Nessa mesma esteira, surgem as complicações causadas pela DM. De acordo com Grupo de Trabalho Internacional sobre Pé Diabético (IWGDF), no mundo, a cada 20 segundos um membro inferior – pé ou perna – é amputado em decorrência das complicações do diabetes.
Sumário
ToggleO que é o Pé Diabético?
O termo “Pé Diabético” é utilizado para designar qualquer infecção, ulceração ou destruição de tecidos que esteja associada a uma anormalidade neurológica e localizada nos membros inferiores (pés) em pessoas com Diabetes Mellitus (DM). Ou seja, são alterações que ocorrem nos pés das pessoas que possuem a doença. Essa é uma das complicações mais comuns inerentes ao diabetes de longa duração e com controle glicêmico inadequado.
Por que o Pé Diabético acontece?
A Diabetes Mellitus (DM) pode provocar neuropatia, situação que causa prejuízo aos nervos e que resulta em deformações dos ossos e músculos dos pés, além da redução da sensibilidade da pele. Com a distorção da anatomia óssea e fisiologia dos pés. Surge então a carga anormal sobre o pé e pontos de pressão, aumentando a propensão de machucados, traumas, bolhas e calos.
Há ainda a já mencionada perda de parte da sensibilidade do indivíduo, que faz com que a capacidade de sentir dor e perceber que há algo errado em seus pés diminua, atrasando o tratamento.
Fora isso, as pessoas que possuem diabetes tendem a ter problemas circulatórios, o que dificulta a chegada do sangue até os membros mais distantes do coração, como os pés, além dos pontos de pressão que também dificultam essa irrigação, inclusive contribuindo para o ressecamento da pele e perda de elasticidade, fatores que dificultam a cicatrização.²
Esse conjunto de características aumenta os riscos de desenvolvimento de úlceras nos pés.
Qual a classificação do Pé Diabético?
O Pé Diabético pode ser classificado, de acordo com sua causa e origem, em:
Neuropático: Caracterizado pela perda progressiva da sensibilidade. As úlceras neuropáticas têm como sintomas a sensação de queimação e formigamento, que normalmente são causadas pela combinação de fatores como o uso de calçados inadequados e o aumento da pressão plantar.
Vascular: Também conhecida como úlcera isquêmica, suas características incluem o pé pálido, frio e com atrofia da musculatura, além disso, também é comum que haja dor caso o membro seja elevado.
Misto: Esse tipo de úlcera é uma combinação entre a vascular e a neuropática e tem uma prevalência de cerca de 34%.
Quais são os sintomas do Pé Diabético?
Entre os principais sintomas do Pé Diabético, podemos citar:
- Formigamento;
- Perda da sensibilidade local;
- Dores;
- Dormência
- Queimação nos pés e nas pernas;
- Sensação de agulhadas ou pontadas;
- Cãibras;
- Ressecamento e fissuras;
- Inchaço;
- Alteração nas unhas;
- Fraqueza nas pernas. ⁴
Quais são os maiores mitos sobre o Pé Diabético?
O Pé Diabético ainda levanta muitas dúvidas, por isso, separamos 5 grandes mitos sobre esse problema que acomete inúmeras pessoas ao redor do mundo.
Mito 1 – O Pé Diabético não apresenta sintomas.
No início os sinais podem ser sutis, mas eles existem: formigamento, queimação, inchaço e dor.
Mito 2 – A amputação é sempre necessária.
Com o controle da Diabetes e a avaliação diária do pé, é possível evitar o surgimento de feridas e suas complicações.
Mito 3 – Pessoas com diabetes podem usar qualquer tipo de calçado.
Sapatos apertados, desconfortáveis, de bico fino e salto alto devem ser evitados por diabéticos pois podem contribuir com a formação de calos e lesões.
Mito 4 – Não há temperatura ideal para lavar um Pé Diabético.
A água não deve ser nem quente, nem fria, a água morna é ideal! Devido a perda de sensibilidade, não é possível perceber se a água quente ou fria demais está machucando os tecidos.
Mito 5 – Não é possível evitar o Pé Diabético.
Com o controle da glicemia e o tratamento adequado da Diabetes, em conjunto com o exame diário do pé, é possível evitar o desenvolvimento do Pé Diabético.
Como prevenir as úlceras de Pé Diabético?
Existem cinco pilares que sustentam os esforços para prevenir úlceras nos pés.
- Identificar o pé em risco;
- Inspecionar e examinar regularmente o pé em risco;
- Educar o paciente, a família e os profissionais de saúde;
- Garantir o uso rotineiro de calçados adequados;
- Tratar fatores de risco para ulceração. ¹
Em meio aos pontos centrais, algumas orientações de autocuidado para Pé Diabético devem ser seguidas para evitar ou reduzir as úlceras:
- Realize a inspeção diária dos pés, incluindo as áreas entre os dedos.
- Mantenha a higiene regular dos pés, seguida da secagem principalmente entre os dedos.
- Evite tomar banho com água quente! Ela deve estar sempre inferior a 37°C, para não ocorrer queimadura.
- Evite andar descalço.
- Prefira meias claras ao utilizar calçados fechados.
- Use, sempre que possível, meias com costura de dentro para fora ou, de preferência, sem costura.
- Procure trocar de meias diariamente.
- Evite meias apertadas e meias altas acima do joelho.
- Inspecione diariamente a parte interna dos calçados, para que não haja objetos que possam machucar seus pés.
- Use calçados confortáveis e de tamanho apropriado.
- Use cremes hidratantes para pele seca, porém, evite usá-los entre os dedos.
- Corte as unhas em linha reta.
- Não utilize agentes químicos ou emplastros para remover calos.
- Avalie calos e calosidades com uma equipe de saúde.
- Faça reavaliação dos pés com equipe de saúde uma vez ao ano (ou mais vezes, se for solicitado).
- Procure imediatamente sua Unidade de Saúde se uma bolha, corte, arranhão ou ferida aparecer.
Quais são os fatores de risco para desenvolvimento do Pé Diabético?
É comprovado que a avaliação e acompanhamento de pessoas com DM para lesões de Pé Diabético reduzem as taxas de amputações, quando comparados ao cuidado convencional (MCCABE et al., 1998).³
Dentre os fatores de risco que causam as úlceras, os principais são:
- História de ulceração ou amputação prévia.
- Neuropatia periférica.
- Deformidade dos pés.
- Doença vascular periférica.
- Baixa acuidade visual.
- Nefropatia diabética (especialmente nos pacientes em diálise).
- Controle glicêmico insatisfatório.
- Tabagismo
Todos esses fatores devem ser considerados. Há ainda a escala que classifica o grau de risco do Pé Diabético, que vai do 0 ao 3. Conforme a seguir:
Grau 0 – Neuropatia ausente.
Grau 1 – Neuropatia presente com ou sem deformidades (dedos em garra, dedos em martelo, proeminências em antepé, Charcot).
Grau 2 – Doença arterial periférica com ou sem neuropatia presente.
Grau 3 – História de úlcera e/ou amputação. ³
Fora isso, a anamnese deve levar em consideração a história de complicações, tempo de doença, hábitos e outros componentes. Já o exame físico deve contar com avaliação clínica geral, neurológica, vascular e das feridas presentes. Exames complementares podem ser necessários de acordo com o caso.
Há também o conhecido como checklist dos pés diabéticos, que elenca algumas características que devem ser avaliadas diariamente em pacientes com a doença.
São elas:
- Calosidade e rachaduras
- Coloração e eritema
- Temperatura
- Pele seca
- Eczema
- Edema de pés e pernas
- Deformidades
- Gangrena
- Inspeção das unhas e entre os dedos
Conclui-se que para prevenir e tratar pé diabético é necessário uma equipe multidisciplinar bem organizada, atenta e regrada, que utilize sistemas e diretrizes para educação, triagem, redução de risco, tratamento e avaliação de resultados.
Referências
1 – Diretrizes do IWGDF sobre a prevenção e tratamento de pé diabético – The International Working Group on the Diabetic Foot – Disponível em https://iwgdfguidelines.org/wp-content/uploads/2020/12/Brazilian-Portuguese-translation-IWGDF-Guidelines-2019.pdf
2 – Pé diabético: a simples ferida que pode virar um problema sério – Escola Paulista de Medicina. Disponível em https://sp.unifesp.br/epm/noticias/pe-diabetico
3 – Manual do Pé Diabético – Ministério da Sáude – disponível em: https://www.as.saude.ms.gov.br/wp-content/uploads/2016/06/manual_do_pe_diabetico.pdf
4 – Base de Conhecimento – Pé Diabético – Júpiter Distribuidora – disponível em https://jupiterdistribuidora.com.br/base-de-conhecimento/feridas-cronicas/pe-diabetico/
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