Úlceras Vasculogênicas: o que são elas e qual é o papel do enfermeiro no combate a esse problema?

Úlceras Vasculogênicas

Feridas podem atingir pessoas de ambos os sexos, de diversas faixas etárias e diferentes etnias, por isso, devido a abrangência desse problema, os gastos públicos e os impactos negativos na qualidade de vida das pessoas atingidas são muitos, representando um sério problema de saúde pública. ²

Quando falamos de úlceras de perna, as úlceras vasculogênicas são as mais prevalentes e apresentam um alto índice de recidiva, sendo assim, é extremamente necessário que pessoas que sofram com esse problema recebam assistência constante dos profissionais de enfermagem e que sejam implantados os cuidados necessário para lidar com esse problema que é caracterizado por um processo crônico, doloroso e recorrente que afeta a mobilidade, a qualidade de vida e  o estado emocional das pessoas atingidas, demandando um atendimento multidisciplinar.²

E para ajudar a disseminar mais informações sobre esse assunto tão importante, preparamos um artigo com informações básicas sobre os diferentes tipos de úlceras vasculogênicas – arterial, venosa e pé diabético – e o papel do enfermeiro no combate a esse problema. Continue lendo e entenda!

O que é Úlcera Arterial?

As úlceras de perna arteriais são lesões ou feridas causadas pela insuficiência do fluxo sanguíneo arterial nas extremidades inferiores, tendo como uma de suas principais causas a aterosclerose, que muitas vezes é a grande responsável pela obstrução de artérias nos membros inferiores.³

As pesquisas conduzidas ao longo dos anos sobre esse tipo de úlcera permitiram identificar fatores de risco como diabetes, hipertensão, tabagismo e distúrbios metabólicos dos lipídios, além disso, alguns estudos constataram que tais fatores também estão relacionados com 80% a 90% das enfermidades cardiovasculares.³

O que é Úlcera Venosa?

Para saber mais sobre esse tipo de úlcera, é necessário entender alguns processos do corpo humano:

“O sangue é direcionado da perna para o coração através da ação de bomba dos músculos da perna. Com a deambulação os músculos da panturrilha contraem, comprimindo o sistema venoso profundo e impulsionando o sangue para a direção cefálica.

Com a queda da pressão no sistema venosos profundo, as válvulas fecham prevenindo um fluxo retrógado e o aumento da pressão no sistema venoso superficial. Com o relaxamento da musculatura da panturrilha, há o esvaziamento do sistema venosos profundo e consequentemente uma queda abrupta da pressão, promovendo abertura de válvulas que direcionam o fluxo do sistema superficial ao profundo.

Nos pacientes com insuficiência venosa, durante a deambulação, há uma menor queda da pressão no sistema venoso profundo, ocasionando um aumento da pressão no local e consequentemente uma transmissão desse aumento de pressão para o sistema venosos dos membros inferiores.

Sendo assim, a hipertensão venosa é decorrente de uma insuficiência venosa, sendo as possíveis causas dessa insuficiência uma disfunção valvar no sistema venosos dos membros inferiores que pode ser congênita ou adquirida, disfunção muscular ou falha na ‘bomba’ da musculatura da panturrilha devido a neuropatias, doenças inflamatórias e fibroses.” (Aldunate JLCB, Isaac C, Ladeira PRS, Carvalho VF, Ferreira MC. Úlceras venosas em membros inferiores. Rev Med (São Paulo). Pág. 159)¹

Ainda não é claro como exatamente a hipertensão venosa leva às úlceras nos membros inferiores, mas é possível deduzir que por conta dos processos citados, as válvulas venosas podem “parar” de funcionar, o que faz com que ocorra um grande acúmulo de sangue nas veias, levando ao surgimento das chamadas “varizes”.

Com a constante pressão causada pela obstrução, líquidos e outros componentes do sangue podem se infiltrar do sistema vascular para os tecidos, o que acaba impedindo a circulação de oxigênio e a chegada de nutrientes nessa região. Assim, as pernas incham e surgem as feridas.

O que é o Pé Diabético?

“Pé Diabético” é o termo utilizado para designar qualquer infecção, ulceração ou destruição de tecidos que esteja associada à uma anormalidade neurológica em pessoas com Diabetes Mellitus (DM).⁴

Tais anormalidades de origem neurológica e vascular que são provocadas pela DM podem causar diferentes distorções na anatomia óssea e fisiologia dos pés e, tais distorções, fazem com que surjam pontos de pressão, ao mesmo tempo em que ocorre o ressecamento da pele, prejudicando a elasticidade, e a diminuição da circulação no local, o que dificulta a cicatrização a tornando mais lenta e ineficaz, e esse conjunto de características aumenta os ricos de desenvolvimento de úlceras nos pés.⁴

O Pé Diabético pode ser classificado, de acordo com sua etiologia, em:

  • Neuropático

Caracterizadas pela perda progressiva da sensibilidade, as úlceras neuropáticas têm como sintomas a sensação de queimação e o formigamento, e normalmente são causadas pela combinação de fatores como o uso de calçados inadequados e o aumento da pressão plantar.⁴

  • Vascular

Também conhecida como úlcera isquêmica, suas características incluem o pé pálido, frio e com atrofia da musculatura, além disso, também é comum que haja dor caso o membro seja elevado.⁴

  • Misto

Esse tipo de úlcera é uma combinação entre a vascular e a neuropática, e tem uma prevalência de cerca de 34%.⁵

Como é feito a avaliação e diagnóstico das Úlceras Vasculogênicas?

Quando falamos de úlceras vasculogênicas, é muito importante estar atento aos mais diferentes fatores para conseguir garantir o diagnóstico adequado. Em primeiro lugar, realizar a anamnese e exame físico é essencial, nesse momento é necessário verificar o seguinte:³

  • A idade do paciente;
  • A presença de fatores de risco como tabagismo, sedentarismo e hábitos de vida;
  • Diagnósticos médicos como Diabetes Mellitus (DM), Hipertensão Arterial, Dislipidemia ou Insuficiência Renal Crônica (IRC);
  • Tratamentos farmacológicos que podem interferir no processo de cicatrização como corticoides, imunossupressores ou drogas citotóxicas;
  • O estado nutricional e de hidratação do paciente;
  • Higiene corporal e da lesão se houver alguma;
  • Se existe a presença de lesões e dificuldade para realizar atividades básicas de rotina.

É importante lembrar também que a carga bacteriana de uma ferida pode ser classificada em 4 fases diferentes: contaminação, colonização, colonização crítica e infecção, e saber identificar em qual fase a ferida do paciente se enquadra também é essencial para administrar o tratamento adequado: ³

Contaminação

  • Não há proliferação bacteriana
  • A cicatrização não é afetada
  • Não há necessidade de ação externa com administração de antibióticos tópicos

Colonização

  • Há proliferação bacteriana
  • A cicatrização não é afetada
  • É possível atuar externamente com administração de antibióticos tópicos

Colonização crítica

  • Há proliferação bacteriana
  • A cicatrização é demorada e existe algum sinal de infecção
  • É necessário atuar externamente com administração de antibióticos tópicos

Infecção

  • Há proliferação bacteriana
  • Há a presença de sinais clínicos de infecção
  • É obrigatório atuar externamente com administração de antibióticos tópicos

Qual é o papel do enfermeiro na atuação contra as Úlceras Vasculogênicas?

Como citado, saber identificar a fase da ferida e investigar os fatores de risco é essencial para que o tratamento das úlceras vasculogênicas seja bem-sucedido e, além disso, é necessário adotar uma atuação interdisciplinar que envolva dermatologistas, enfermeiros, fisioterapeutas e cirurgiões vasculares, juntamente a diversos cuidados.

Nesse sentido, fica a cargo do enfermeiro buscar estratégias para tender o paciente de forma holística, ou seja, se atentando para o indivíduo como todo e não apenas para a sua lesão ou um conjunto de sintomas, por isso, é muito importante que o profissional de enfermagem conheça o histórico clínico do enfermo para que o tratamento possa ser eficaz. ²

Assim sendo, é imprescindível que o profissional realize avaliações constantes a fim de ajustar a terapia de acordo com as necessidades específicas do paciente, além de se atentar para todas as queixas dos indivíduos e procurar sempre motivá-los no decorrer do tratamento, inserindo nos cuidados estratégias que tenham como foco a promoção do bem-estar e a manutenção de uma comunicação sempre efetiva para garantir o acompanhamento contínuo. ²

Com todas essas informações, é impossível não afirmar que a qualidade de vida de uma pessoa com uma úlcera vasculogênica é muito afetada, afinal, a doença crônica impacta diretamente na vida social, afetiva, econômica e profissional do indivíduo e esse impacto pode ser tão intenso que leva o paciente ao isolamento social, o que pode afetar sua saúde mental e contribuir com uma piora do quadro.

Por isso, a enfermagem tem o papel extremamente relevante e necessário de apoiar o enfermo em todo o processo de tratamento, incluindo na sua reinserção ao mercado de trabalho e à vida social e, assim sendo, os métodos de cuidados devem também abarcar estratégias que supram essas necessidades relacionadas à vida social do paciente.

Bibliografia:
  • Úlceras venosas em membros inferiores por Johnny Leandro Conduta Borda Aldunate, Cesar Isaac, Pedro Ribeiro Soares de Ladeira, Viviane Fernandes Carvalho e Marcus Castro Ferreira.¹
  • As úlceras vasculogênicas na perspectiva do cuidado de enfermagem: um estudo de revisão bibliográfica²
  • Guía de Práctica Clínica: Consenso sobre Úlceras Vasculares y Pie Diabético de la Asociación Española de Enfermería Vascular y Heridas (AEEVH)³
  • Manual do Pé Diabético: estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica ⁴
  • Avaliação do sistema de classificação de risco do pé, proposto pelo grupo de trabalho internacional sobre o pé diabético, hospital da polícia militar de minas gerais ⁵

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