O que é Deiscência de Ferida Cirúrgica?

Deiscência

As cirurgias podem ser planejadas ou de emergência, mas independente do tipo, é imprescindível seguir as diretrizes de segurança para garantir não apenas o sucesso do procedimento, mas também uma recuperação segura para o paciente, evitando complicações que possam prejudicar a sua qualidade de vida.

Entre os eventos adversos que podem ocorrer após uma cirurgia podemos citar a deiscência de ferida cirúrgica, assunto que trataremos ao longo desse artigo, explicando por que esse problema acontece e qual é o papel da equipe de enfermagem para que seja possível contorná-lo.

O que é a Ferida Cirúrgica?

Primeiro, é importante entender as características das feridas cirúrgicas. Tratam-se de lesões agudas e intencionais, ou seja, são planejadas, o que, em geral, diminui os riscos de complicações. Produzidas por um objeto cortante, a cicatrização desse tipo de ferida tende a acontecer rapidamente, de forma espontânea, e pode ser de primeira, segunda ou terceira intenção:

  • “A cicatrização por primeira intenção ocorre em feridas assépticas, com um mínimo de destruição tissular, fechadas adequadamente por união primária pela sutura.
  • A cicatrização por segunda intenção acontece em feridas infectadas ou em feridas cujas bordas não foram aproximadas. 
  • Já a cicatrização por terceira intenção ocorre em feridas profundas que não foram suturadas anteriormente ou que se romperam e são ressuturadas em momento posterior.” ¹

Como sugere a cicatrização por terceira intenção, é possível que a sutura realizada após a cirurgia se rompa. A esse fenômeno damos o nome de “deiscência”, uma ocorrência que representa uma grave complicação da ferida cirúrgica.

O que é a Deiscência?

A deiscência de feridas cirúrgicas (DFC) trata-se de uma complicação pós-operatória que tem como consequência o aumento do período de internação e dos custos hospitalares e um grande impacto negativo no bem-estar do paciente, podendo levar a graves problemas de saúde se não tratada corretamente.

Sendo definida como a abertura espontânea de uma sutura ou cicatriz decorrente de uma incisão cirúrgica, geralmente provocada pela execução incorreta dos cuidados pós-operatórios, a deiscência normalmente ocorre nos primeiros 10 dias depois da cirurgia, mas também pode acontecer até o trigésimo dia. ²

De acordo com estudos realizados sobre o assunto, a ocorrência de deiscência varia de acordo com determinados procedimentos cirúrgicos, assim, em cirurgias abdominais os números de DFC variam entre 1,3 a 4,7%, em cesarianas 13,3%, em procedimentos de próteses de quadril 14,3%, e em cirurgias cardiotorácicas 15,3%. ²

Esses dados reforçam a ideia de que, independentemente do grau de complexidade da cirurgia, os cuidados para evitar a deiscência devem ser os mesmos, afinal, essa complicação está associada ao aumento de morbidade e mortalidade.

A deiscência pode ser parcial, ou seja, com apenas poucos centímetros, ou completa, quando o comprimento total da ferida é aberto, e entre as causas mais comuns para sua ocorrência, além de fatores técnicos como fio, incisão e técnica de sutura, podemos citar:¹

  • Excesso de tensão na ferida;
  • Hematoma ou infecção;
  • Tosse exaustante;
  • Distensão abdominal.

Além disso, existem fatores de risco independentes dos procedimentos, entre eles, os mais recorrentes são:²

  • Idade avançada;
  • Sexo biológico feminino;
  • Doença pulmonar crônica;
  • Doença cardiovascular;
  • Edema;
  • Ascite;
  • Anemia;
  • Tabagismo;
  • Nutrição inadequada;
  • Infecção.

Quanto mais itens da lista estiverem presentes, maiores são as chances de ocorrer complicações graves, incluindo o óbito.

Além disso, após a ocorrência de uma deiscência a cicatrização tende a ser mais lenta e o paciente pode até mesmo precisar de uma nova cirurgia para corrigir o problema. O impacto da DFC na vida dos pacientes é grave, assim como nos custos de assistência à saúde. Por isso, é necessário trabalhar para prevenir essa complicação, aplicando as diretrizes corretas.

E os profissionais que mais podem ajudar nesse momento são os enfermeiros, pois além de atuarem diretamente nos cuidados pré-operatórios e pós-operatórios, eles também podem contribuir com a educação para o autocuidado do paciente.

Como o enfermeiro pode ajudar a evitar a Deiscência?

Em 2018, a Wound Healing Societies (WUWHS) publicou um consenso a respeito da melhoria da prevenção e dos resultados das DFC, contendo os fatores de risco para a ocorrência da deiscência. 

A partir desse estudo, é possível deduzir que o papel da enfermagem na prevenção da deiscência é primordial, pois esses profissionais podem atuar “na prevenção de hipotermia, na prevenção de complicações mecânicas, por meio da educação do paciente para tosse e para esforços no pós-operatório e da remoção da sutura no período adequado, e na prevenção de infecção da ferida operatória.” ²

Antes da cirurgia, o enfermeiro pode contribuir avaliando o risco de infecção e estado nutricional do paciente, bem como passando todas as informações necessárias sobre os cuidados pós-operatórios que deverão ser adotados para evitar atrasos na cicatrização.

Durante a cirurgia, o enfermeiro pode verificar se todas as regras assépticas, essenciais para prevenção de infecção, estão sendo seguidas corretamente, lembrando a todos presentes no campo operatório sobre a importância de higienizar as mãos corretamente e realizar as devidas trocas de luvas nos momentos adequados.

Por fim, o enfermeiro também é responsável por realizar a cobertura da ferida e, portanto, pode aproveitar esse momento para verificar o estado da lesão e a presença de indicadores que possam apontar para possíveis complicações.

Nesse momento, utilizar uma solução de qualidade para realizar o curativo é essencial. Entre os curativos pós-operatórios existentes no mercado, destacamos a solução Mepilex Border Post-Op, uma cobertura pós-operatória flexível e extra adaptável que garante muito mais conforto para os pacientes. Além de sua camada de contato com adesivo de silicone que minimiza a dor, Mepilex Border Post-Op possui estrutura altamente absorvente, para reduzir a frequência de troca de coberturas, e tecnologia Flex para flexibilidade extra, ideal para articulações como, por exemplo, quadris e joelhos – para conhecer todas as informações sobre essa solução, você pode acessar o catálogo virtual da Júpiter

Relato de experiência sobre prevenção de Deiscência

Com todas essas informações, fica clara a importância de trabalhar para evitar a DFC. Felizmente, apesar de poder apresentar consequências graves, com a atuação correta da equipe de enfermagem é possível prevenir esse problema, como mostra um relato de experiência realizado em um hospital universitário e publicado no BJHR (Brazilian Journal of Health Review):

“Trata-se de um relato de experiência da assistência de enfermagem realizada na ferida de paciente com deficiência após reconstrução do trânsito intestinal. O paciente foi acompanhado por enfermeiros do grupo de feridas e enfermeirandos de um hospital universitário no período de um mês, com curativos diários. […] 

 A ferida era limpa diariamente com polihexametileno biguanida (PHMB), utilizando solução fisiológica 0,9% e gaze estéril. 

As bordas, o leito, profundidade, exsudato, odor e tamanho eram as variáveis avaliadas. Utilizava-se de cobertura com gaze estéril e filme transparente. No final de um mês a ferida evoluiu com completo fechamento. […]

Concluiu-se que o curativo diário e a avaliação das variáveis específicas, realizadas pelo enfermeiro, resulta em um efeito positivo para o paciente, sendo uma boa prática que necessita ser divulgada e continuada. […]” ³

Assim, com o acompanhamento contínuo no pré e pós-operatório, a educação para o autocuidado e a aplicação de técnica correta no momento da cirurgia e soluções de qualidade nos cuidados com a lesão, é possível contribuir para a diminuição da deiscência e para o aumento da qualidade de vida e bem-estar dos pacientes, evidenciando a qualidade dos serviços de saúde.

Referências:

Estudo Preliminar Sobre Registros De Deiscência de Ferida Operatória em um Hospital Universitário – Revista HUPE (Hospital Universitário Pedro Ernesto)¹

Artigo de Revisão: Ações de Enfermagem Podem Prevenir a Deiscência em Ferida Operatória? – Revista SOBECC²

Assistência de Enfermagem a paciente portador de Deiscência de Ferida Operatória: Relato de experiência – Brazilian Journal of health Review³


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