Profissionais que lidam diariamente com pacientes idosos sabem que, às vezes, basta um simples toque, um leve atrito da roupa ou uma movimentação mal calculada para que a pele se rompa. Esses machucados que se formam são as lesões por fricção, feridas agudas, dolorosas e evitáveis, que se tornam cada vez mais comuns com o envelhecimento da população, e o mais preocupante de tudo: muitas das vezes elas passam despercebidas, são mal diagnosticadas e acabam não sendo tratadas da forma correta.
Essa negligência passa muito pelo entendimento de que essas lesões são “menos graves” que outros tipos de feridas, como as lesões por pressão, por exemplo, mas é necessário dizer que as lesões por fricção provocam dor e estão suscetíveis a infecções que podem retardam o processo de cicatrização, impactando não só a qualidade de vida do idoso, mas também os custos e a reputação dos serviços de saúde envolvidos.
Nesse sentido, entender o que são e como prevenir esse tipo de problema, é uma necessidade urgente para qualquer profissional de saúde que lida com o cuidado geriátrico.
E este texto de blog tem exatamente esse objetivo. Boa leitura!
Sumário
ToggleO que são as Lesões por Fricção?
As lesões por fricção são lacerações superficiais na pele que afetam principalmente a epiderme e a derme. Elas são causadas por traumas mecânicos, como fricção, cisalhamento ou pequenos impactos. Embora possam acometer qualquer faixa etária, os idosos são os mais suscetíveis por conta das alterações fisiológicas do envelhecimento, como: pele mais fina, ressecada, menos elástica e com menor capacidade regenerativa.
De acordo com um painel de consenso internacional, publicado na Advances in Skin & Wound Care, as lesões por fricção podem, inclusive, ser mais prevalentes que as lesões por pressão. Porém, ainda existe uma escassez significativa de literatura e protocolos clínicos específicos para sua prevenção, avaliação e tratamento, o que contribui para o subdiagnóstico e manejo inadequado dessas lesões.
Por que os idosos são mais vulneráveis?
O envelhecimento da pele está diretamente relacionado à perda de colágeno, diminuição de tecido adiposo, redução de glândulas sebáceas e sudoríparas, além da perda de elasticidade, como dito anteriormente.
Todos esses fatores reunidos tornam a pele do idoso mais propensa a se romper diante de forças que não causariam nenhum tipo de problema em pessoas mais jovens.
Também existem fatores extrínsecos que podem aumentar o risco de lesões por fricção em idosos:
- Polifarmácia e uso de corticoides ou anticoagulantes;
- Desnutrição e desidratação;
- Presença de comorbidades (câncer, diabetes, doenças vasculares);
- Uso frequente de fraldas geriátricas e exposição à umidade;
- Baixa mobilidade ou dependência para atividades básicas;
- Uso inadequado de adesivos, roupas com costuras salientes e manuseio incorreto.
Esses fatores tornam o cuidado ainda mais delicado e o papel da equipe de saúde crucial.
Classificações: como identificar a gravidade da lesão
O sistema mais utilizado atualmente para classificar lesões por fricção é o STAR Skin Tear Classification System, que divide as lesões em três categorias, considerando se o retalho de pele está presente, alinhado e com coloração preservada:
- Tipo 1 – Sem perda de pele: Caracteriza-se por uma ruptura linear ou um retalho de pele que pode ser reposicionado completamente para cobrir o leito da ferida.
- Tipo 2 – Perda parcial do retalho: Neste tipo, há uma perda parcial do retalho de pele, que não pode ser totalmente reposicionado para cobrir o leito da ferida.
- Tipo 3 – Perda total do retalho: Aqui ocorre a perda total do retalho de pele, expondo completamente o leito da ferida. Não há tecido viável para reposicionamento, tornando a lesão mais grave e exigindo cuidados específicos.
Essa classificação é importante porque ajuda na padronização do diagnóstico e norteia o plano de tratamento o mais adequado possível. Um dos erros muito comuns é tratar essas lesões como uma simples escoriação, sem considerar o risco de infecção ou necrose que ela pode resultar. É na identificação precoce e correta que o primeiro passo para uma assistência adequada acontece.
Boas práticas para a prevenção de Lesões por Fricção
Avaliação diária da pele
Parece básico, mas observar a pele do idoso todos os dias, com atenção especial para áreas de maior risco, como mãos, braços, pernas e cotovelos, é muito importante. Essa avaliação deve considerar hidratação, flacidez, histórico de lesões anteriores e uso de medicações que afetam a integridade da pele.
Evitar produtos agressivos
Sabonetes alcalinos, antibacterianos ou perfumados devem ser evitados, pois removem a camada lipídica natural da pele, favorecendo o ressecamento. Prefira produtos com pH neutro e que não agridam a barreira cutânea.
Hidratação cutânea regular
A aplicação de hidratantes sem perfume ajuda a manter a elasticidade da pele e previne microfissuras. Esse cuidado, muito simples, tem impacto direto na redução das lesões.
Atenção ao vestuário
Roupas com costuras salientes, tecidos ásperos ou que apertam demais podem provocar atrito e cortes. O mesmo vale para acessórios, calçados mal ajustados e roupas íntimas de tecido sintético.
Cuidado nas transferências
Parte das lesões por fricção ocorrem durante a mobilização do paciente: transferência cama-cadeira, troca de fraldas ou reposicionamento. Por isso, capacitar cuidadores e profissionais para utilizar técnicas seguras de movimentação é primordial.
Controle ambiental
É preciso evitar ambientes excessivamente secos, com ar-condicionado ou calor excessivo, que agravam o ressecamento da pele. A manutenção da umidade ambiental e da temperatura corporal deve ser incluída na rotina de cuidados.
Educação continuada e uso de protocolos
Como mencionado anteriormente e destacado na publicação Advances in Skin & Wound Care, a falta de diretrizes claras para lidar com essas lesões ainda é um grande desafio. Por isso, a implementação de protocolos assistenciais padronizados e a capacitação contínua das equipes são indispensáveis para a redução da incidência dessas lesões.
Participação ativa do paciente e familiares
O idoso deve ser encorajado a reconhecer os sinais de risco, cuidar da própria pele, relatar desconfortos e colaborar com estratégias de prevenção. A família também precisa ser orientada sobre o manuseio seguro, o uso adequado de produtos e os sinais de alerta.
Consequências do mau manejo das Lesões por Fricção
Ignorar uma lesão por fricção ou tratá-la de forma inadequada pode gerar uma verdadeira cascata de complicações clínicas e institucionais. De acordo com o consenso internacional publicado na revista Advances in Skin & Wound Care:
“Skin tears are often painful, acute wounds that result from trauma to the skin and are largely preventable. These wounds are often mismanaged and misdiagnosed, leading to complications including pain, infection, and delayed wound healing.”
(LeBlanc et al., 2011, p. 4)
Tradução: As lesões por fricção são feridas agudas e dolorosas, geralmente causadas por trauma na pele e, em grande parte, evitáveis. Muitas vezes, são mal diagnosticadas e mal conduzidas, o que leva a complicações como dor, infecção e atraso na cicatrização.
Além dos impactos físicos, esse manejo feito de maneira equivocada também afeta o emocional dos pacientes e familiares, sobrecarrega os profissionais de saúde e onera os serviços. O mesmo documento destaca:
“Skin tears increase caregiver time and facility costs, cause anxiety for patients and families, and may reflect poorly on the quality of care provided at a facility.”
(LeBlanc et al., 2011, p. 5)
Tradução: As lesões por fricção aumentam o tempo de dedicação dos cuidadores, elevam os custos das instituições, causam ansiedade nos pacientes e familiares, e ainda podem prejudicar a imagem da qualidade do cuidado prestado pelo serviço.
Em resumo, tratar essas lesões com seriedade não é apenas uma questão clínica, mas também ética, humana e institucional.
Conclusão: cuidar da pele é cuidar da dignidade
Em uma realidade onde a população idosa está crescendo rapidamente, é possível afirmar que as lesões por fricção já não podem mais ser tratadas como lesões de menor importância. É preciso atenção, preparo, cuidado técnico e acima de qualquer coisa, um olhar humanizado sobre o envelhecimento.
Prevenir esse problema é preservar a dignidade e o bem-estar de quem já passou por muitos momentos ao longo da vida. E para isso, contar com soluções que garantem um tratamento eficaz e respeitoso dessas lesões é de suma importância.
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Referências:
1 – Skin Tears: State of the Science – Consensus Statements for the Prevention, Prediction, Assessment, and Treatment of Skin Tears© | Advances in Skin & Wound Care
Disponível em: https://journals.lww.com/aswcjournal/fulltext/2011/09001/skin_tears__state_of_the_science__consensus.1.aspx
2 – Cuidados de enfermagem na prevenção de lesão por fricção em idosos | Revista Gestão & Saúde
Disponível em: https://revista.herrero.com.br/index.php/gestaoesaude/article/view/78/49
3 – Tratando Skin Tears – É tudo questão de resultado | Mölnlycke
Disponível em: https://www.molnlycke.com.br/SysSiteAssets/risk-assessment-and-consensus-reports/material-skin-tear.pdf
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